Tenho por hábito escrever nos livros que vou lendo. Sublinho-os, comento-os, dialogo com eles. Por vezes, surgem-me frases ocasionais sem qualquer relação com as páginas lidas. Não sei de onde vêm, nem se é possível estabelecer alguma associação, subliminar que seja, com a leitura interrompida. Às vezes penso que tudo o que escrevo surge assim, ou seja, de uma interrupção momentânea da leitura. Da leitura de um livro, da leitura de um sonho, da leitura da vida. Enquanto lia " Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra" , preenchi os espaços em branco das páginas com isto:
Há uma parte das nossas vidas que devemos preservar, uma parte que não queremos ver partilhada, ou porque tememos o julgamento dos outros sobre o que nessa parte vai sendo inscrito, ou porque simplesmente queremos garantir algum território virgem na nossa existência.
Desde cedo educados para o medo, para termos medo de tudo, incluindo o nosso próprio corpo, acabamos terrivelmente sós. É nesta solidão que germinará um ódio mais ou menos manifesto ao mundo, um ódio com a cara do rancor que, no limite, deixar-nos-á impotentes perante as expectativas e estupidamente deprimidos. Digo estupidamente por considerar a tristeza um DESPERDÍCIO.
O segredo estará, então, em saber superar o medo, já que nunca conseguiremos libertar-nos dele, abrindo o coração ao mundo (isto soa patético, mas é autêntico) e amando os outros, tratando deles como se fossem as nossas próprias feridas.
domingo, 2 de junho de 2013
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