Se o Destino marca a hora, o Amor tem hora marcada: fecha para almoço e não abre aos fins-de-semana e feriados. O Amor faz pontes – entre as pessoas e não só. Quem o procura muito cedo ou já tarde, não o encontra disponível. No outro dia, passei-lhe à porta e fiquei a observar.
Vi que há quem ande à procura dele e nunca o encontre, e que há quem dele não queira saber e, para sua própria surpresa, encontre a porta escancarada. Há quem venha aos pares, em grupo, e quem venha sozinho. Vi que há quem venha de longe só para ter acesso ao Amor e que acaba por passar todo o tempo a bater a portas erradas. Ao mesmo tempo, outros que sabem qual é a porta certa, não fazem outra coisa que é procurar razões para não entrar, por muito que os chamem lá de dentro, nunca passando da soleira da porta.
Se muito estranhei o facto de toda a gente conseguir entrar no Amor, que a porta se abra a qualquer um que a ela bata, mais ainda estranhei que uma parte significativa das pessoas saia ao fim de pouco tempo. Não tivesse eu presenciado, teimaria que era impossível a um mesmo rosto conter a capacidade de expressar emoções tão díspares: solar à entrada, lunar à saída. Corpos alquebrados, que se afastam, cruzam-se com o passo lesto e jovial de quem chega. Para uns há sorrisos, para outros, nem sequer indiferença. Mas, ao fim de algum tempo, há quem volte a trilhar os caminhos daquela rua, novamente animados e confiantes… para depois voltarem a ter de ir embora, cada vez mais amargos e descrentes de tudo. Para mais uma vez regressarem, e outra vez se terem de afastar… Parece haver quem faça deste pêndulo a razão de sua existência. Optimistas, ouvi alguém chamar-lhes. Discordo. São os pessimistas que têm a capacidade de regressar uma e outra vez, enquanto houver forças: o simples facto de os deixarem entrar é razão suficiente para fazer o percurso, enquanto que ao optimista uma desilusão é quanto baste para mais nada querer do Amor – ou assim julgam, pelo menos. Mas também vi suspiros de alívio ao se sair de lá, acompanhados de promessas irrevogáveis de nunca mais cair no erro de ali regressar.
É fácil ficar confundida com tão intensas emoções, à porta do Amor. A certa altura, eu já sentia a dor e a solidão de quem vai e, ao mesmo tempo, a alegria e a efusividade de quem vem. Chorava e não sabia se era de dor, se de contentamento. E foi então que reparei nelas. Que pessoas são aquelas que têm a tão grande responsabilidade de deixar entrar e sair do Amor? Que sentem elas? Não me admiraria que de tanto sentir, nada sentissem já. Se bem me interroguei, melhor fui à procura das respostas. Atravessei a estrada e bati à porta, que logo se entreabriu com um sorriso. Como é que decidem quem fica e quem sai? Atirei eu logo, sem mais. Não somos nós que decidimos. Entra quem consegue ter a coragem de conseguir entrar. Franzi o sobrolho e ela continuou. Há muito o convencimento que o Amor é acessível e justo, mas o Amor é difícil; o que custa não é entrar, é aceitar o compromisso que se exige a quem cá quer ficar.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
domingo, 16 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Sonhador de utupias
Fernando Pessoa nasceu há 125 anos.
" De sonhar ninguém se cansa,porque
sonhar é esquecer e
esquecer não pesa."
" A literatura é a maneira
mais agradável de
ignorar a vida"
" Vivo sempre no presente,
o futuro, não o conheço,
o passado, já o não
tenho".
Fernando Pessoa
" De sonhar ninguém se cansa,porque
sonhar é esquecer e
esquecer não pesa."
" A literatura é a maneira
mais agradável de
ignorar a vida"
" Vivo sempre no presente,
o futuro, não o conheço,
o passado, já o não
tenho".
Fernando Pessoa
quarta-feira, 12 de junho de 2013
A arte de traduzir
A flecha avança por planícies desconhecidas.
Onde paira a ave? Hoje será um dia de sorte?
O disparo será preciso? Num precipitado turbilhão
As cercetas levantam voo instalando na alma a agitação.
Assim o livro imagina o seu horizonte
E nessas linhas, configuradas sobre o papel,
Tens de capturar com a destreza de um caçador,
Oferecendo-a aos teus congéneres, a essência do real.
Não é necessário matar! Cada analogia possui
O seu próprio limite: procura que as palavras
Não transformem a sua riqueza em ausência de sentido,
Que nelas permaneça vivo o pensamento
E que o espírito poético se manifeste sobre nós
Como algo íntimo, num sopro que vem do que é único.
(1940) Maxim Rilsky
Onde paira a ave? Hoje será um dia de sorte?
O disparo será preciso? Num precipitado turbilhão
As cercetas levantam voo instalando na alma a agitação.
Assim o livro imagina o seu horizonte
E nessas linhas, configuradas sobre o papel,
Tens de capturar com a destreza de um caçador,
Oferecendo-a aos teus congéneres, a essência do real.
Não é necessário matar! Cada analogia possui
O seu próprio limite: procura que as palavras
Não transformem a sua riqueza em ausência de sentido,
Que nelas permaneça vivo o pensamento
E que o espírito poético se manifeste sobre nós
Como algo íntimo, num sopro que vem do que é único.
(1940) Maxim Rilsky
sábado, 8 de junho de 2013
Será que vai chover hoje?" .... Espaço.
"Há sempre qualquer coisa de ridículo nas emoções das pessoas que deixámos de amar."
Oscar Wilde
Oscar Wilde
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Leitura nas Sombras...
A propósito de uma daquelas conversas que gosto de ter... esta sobre o existencialismo..corrente filosófica que defendo.
«Muito poucos seres humanos são capazes de aceitar a ideia do «absurdo existencialista», de que estamos «atirados» aqui no mundo por obra de um acaso incompreensível, de um acidente estelar, que as nossas vidas são meras casualidades desprovidas de ordem e de concerto e que tudo o que com elas aconteça ou deixe de acontecer depende exclusivamente da nossa conduta e vontade e da situação social e histórica em que nos encontramos inseridos.»
Antecipando a referência a Camus (O Mito de Sisifo), Mario Vargas Llosa, nesse livro recente e valioso que é A Civilização do Espectáculo, dá -nos uma definição mais sucinta e transparente que li do cinema de Béla Tarr, sem que sequer minimamente se tenha querido a ele referir. Num bom pensamento cabem várias ideias. Quem se apropria do que lê pode acrescentar outros sentidos, originados até por uma radical descontextualização.
«Muito poucos seres humanos são capazes de aceitar a ideia do «absurdo existencialista», de que estamos «atirados» aqui no mundo por obra de um acaso incompreensível, de um acidente estelar, que as nossas vidas são meras casualidades desprovidas de ordem e de concerto e que tudo o que com elas aconteça ou deixe de acontecer depende exclusivamente da nossa conduta e vontade e da situação social e histórica em que nos encontramos inseridos.»
Antecipando a referência a Camus (O Mito de Sisifo), Mario Vargas Llosa, nesse livro recente e valioso que é A Civilização do Espectáculo, dá -nos uma definição mais sucinta e transparente que li do cinema de Béla Tarr, sem que sequer minimamente se tenha querido a ele referir. Num bom pensamento cabem várias ideias. Quem se apropria do que lê pode acrescentar outros sentidos, originados até por uma radical descontextualização.
terça-feira, 4 de junho de 2013
Pessoas que GOSTAM de viver a ansiedade do momento...
A dúvida aprisiona ....
A certeza liberta!
Sinto-me, finalmente, livre. Há males que vêem por BEM!
A certeza liberta!
Sinto-me, finalmente, livre. Há males que vêem por BEM!
segunda-feira, 3 de junho de 2013
È como que...
a esvaziar.
o vazio, como não tem arestas, provavelmente faz mais sentido. habituámo-nos foi a vê-lo do lado dos vilões.
o vazio, como não tem arestas, provavelmente faz mais sentido. habituámo-nos foi a vê-lo do lado dos vilões.
domingo, 2 de junho de 2013
A outra margem...
Tenho por hábito escrever nos livros que vou lendo. Sublinho-os, comento-os, dialogo com eles. Por vezes, surgem-me frases ocasionais sem qualquer relação com as páginas lidas. Não sei de onde vêm, nem se é possível estabelecer alguma associação, subliminar que seja, com a leitura interrompida. Às vezes penso que tudo o que escrevo surge assim, ou seja, de uma interrupção momentânea da leitura. Da leitura de um livro, da leitura de um sonho, da leitura da vida. Enquanto lia " Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra" , preenchi os espaços em branco das páginas com isto:
Há uma parte das nossas vidas que devemos preservar, uma parte que não queremos ver partilhada, ou porque tememos o julgamento dos outros sobre o que nessa parte vai sendo inscrito, ou porque simplesmente queremos garantir algum território virgem na nossa existência.
Desde cedo educados para o medo, para termos medo de tudo, incluindo o nosso próprio corpo, acabamos terrivelmente sós. É nesta solidão que germinará um ódio mais ou menos manifesto ao mundo, um ódio com a cara do rancor que, no limite, deixar-nos-á impotentes perante as expectativas e estupidamente deprimidos. Digo estupidamente por considerar a tristeza um DESPERDÍCIO.
O segredo estará, então, em saber superar o medo, já que nunca conseguiremos libertar-nos dele, abrindo o coração ao mundo (isto soa patético, mas é autêntico) e amando os outros, tratando deles como se fossem as nossas próprias feridas.
Há uma parte das nossas vidas que devemos preservar, uma parte que não queremos ver partilhada, ou porque tememos o julgamento dos outros sobre o que nessa parte vai sendo inscrito, ou porque simplesmente queremos garantir algum território virgem na nossa existência.
Desde cedo educados para o medo, para termos medo de tudo, incluindo o nosso próprio corpo, acabamos terrivelmente sós. É nesta solidão que germinará um ódio mais ou menos manifesto ao mundo, um ódio com a cara do rancor que, no limite, deixar-nos-á impotentes perante as expectativas e estupidamente deprimidos. Digo estupidamente por considerar a tristeza um DESPERDÍCIO.
O segredo estará, então, em saber superar o medo, já que nunca conseguiremos libertar-nos dele, abrindo o coração ao mundo (isto soa patético, mas é autêntico) e amando os outros, tratando deles como se fossem as nossas próprias feridas.
sábado, 1 de junho de 2013
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